terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

REI E SACERDOTE - DIZIMO


 “Ora, Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; pois era sacerdote do Deus Altíssimo; e abençoou a Abrão, dizendo: bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Criador dos céus e da terra! E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos! E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo”.
Gênesis 14:18-20

Abraão acabara de voltar de uma guerra. Havia vencido quatro reis e resgatado o seu sobrinho Ló com toda a sua família. Era um momento de bonança, pois a vitória dava-lhe o direito de levar consigo todos os despojos dos reis derrotados, fazendo dele mais rico ainda do que já era.

No caminho de regresso, encontrou Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo. Este o abençoou com pão e vinho, e lhe disse: “bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Criador dos céus e da terra! E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos!”. Em seguida, Abraão deu-lhe o dízimo de tudo.

Para entendermos melhor o conteúdo desta história precisamos contextualizá-la com o que a Bíblia diz sobre as ordens sacerdotais. Só então, poderemos assimilar a profundidade do assunto que tem mexido e até mesmo levado muita gente a desacreditar na verdade sobre o ato de dizimar.

Ordem Sacerdotal

Melquisedeque é mencionado como o único, no Antigo Testamento, a trazer em sua ordem uma dupla função: rei e sacerdote. Em Gênesis 14:18, ele é mencionado como rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, e Abraão o reconheceu como enviado de Deus para abençoá-lo. Esta é a primeira ordem sacerdotal, a de Melquisedeque.

Mais de 600 anos depois, no tempo de Moisés, o sacerdócio foi oficializado na tribo de Levi, quando Deus separou essa tribo para exercer o serviço do Tabernáculo (Tenda da Congregação) e administrar as questões das festas sagradas e dos sacrifícios. Esta é a segunda ordem sacerdotal chamada de Araônica, porque começou com Arão.

“Também para os filhos de Arão farás túnicas; e far-lhes-ás cintos; também lhes farás tiaras, para glória e ornamento. E vestirás com eles a Arão, teu irmão, e também a seus filhos, e os ungirás e consagrarás, e os santificarás, para que me administrem o sacerdócio”.
Êxodo 28:40,41

“Mas, tu, põe os levitas sobre o tabernáculo do Testemunho, e sobre todos os seus utensílios, e sobre tudo o que lhe pertence; eles levarão o tabernáculo e todos os seus utensílios; e eles o administrarão e assentarão o seu arraial ao redor do tabernáculo. E, quando o tabernáculo partir, os levitas o desarmarão; e, quando o tabernáculo assentar no arraial, os levitas o armarão; e o estranho que se chegar morrerá."

Números 1:50,51
“E Arão moverá os levitas por oferta de movimento perante o SENHOR pelos filhos de Israel; e serão para servirem no ministério do SENHOR”.
Números 8:11

Essa ordem não era mais a de Melquisedeque, mas a de Arão, o irmão do meio de Moisés que era levita e foi escolhido por Deus para levantar a ordem sacerdotal no tempo da lei. Nesse contexto, o sacerdócio não tinha uma função dupla, mas somente a do serviço no Tabernáculo. A ordem Araônica se encerrou na cruz, quando Jesus cumpriu com toda a lei e aboliu a prática ritualista do Antigo Testamento, instituindo o tempo da graça.

“Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê”.
Romanos 10:4

Para que houvesse uma justificação (ser inocentado da culpa, ser feito justo) o homem precisava cumprir com todo o ritual e cerimonial da lei, através dos sacrifícios e das festas sagradas. Mas Cristo deu fim a isso quando morreu na cruz do Calvário e cumpriu com toda a lei de uma vez por todas, justificando o homem pelo Seu próprio sacrifício. Na lei, o homem se justificava pelas obras da lei; na graça, o homem se justifica pela fé em Cristo.

Ordem real

Já o reino de Israel não ficou com Levi, começou com a tribo de Benjamim quando Israel pediu um rei para si, fazendo de Saul o seu primeiro rei.

“Ora, havia um homem de Benjamim, cujo nome era Quis, filho de Abiel, filho de Zeror, filho de Becorate, filho de Afias, filho dum benjamita; era varão forte e valoroso. Tinha este um filho, chamado Saul, jovem e tão belo que entre os filhos de Israel não havia outro homem mais belo de que ele; desde os ombros para cima sobressaía em altura a todo o povo”.
1 Samuel 9:1,2

“Mas vós hoje rejeitastes a vosso Deus, àquele que vos livrou de todos os vossos males e angústias, e lhe dissestes: Põe um rei sobre nós. Agora, pois, ponde-vos perante o Senhor, segundo as vossas tribos e segundo os vossos milhares. 0 endo, pois, Samuel feito chegar todas as tribos de Israel, foi tomada por sorte a tribo de Benjamim.
E, quando fez chegar a tribo de Benjamim segundo as suas famílias, foi tomada a família de Matri, e dela foi tomado Saul, filho de Quis; e o procuraram, mas não foi encontrado. Pelo que tornaram a perguntar ao Senhor: Não veio o homem ainda para cá? E respondeu o Senhor: Eis que se    escondeu por entre a bagagem: Correram, pois, e o trouxeram dali; e estando ele no meio do povo, sobressaía em altura a todo o povo desde os ombros para cima.
Então disse Samuel a todo o povo: Vedes já a quem o Senhor escolheu: Não há entre o povo nenhum semelhante a ele. Então todo o povo o aclamou, dizendo: Viva o rei!”.
1 Samuel 10:19-24

Posteriormente, esse reino foi mudado para a tribo de Judá quando Samuel ungiu Davi como rei.

“Então Samuel tomou o vaso de azeite, e o ungiu no meio de seus irmãos; e daquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi. Depois Samuel se levantou, e foi para Ramá”.
1 Samuel 16:13

“Antes escolheu a tribo de Judá, o monte Sião, que ele amava. Edificou o seu santuário como os lugares elevados, como a terra que fundou para sempre. Também escolheu a Davi, seu servo, e o tirou dos apriscos das ovelhas; de após as ovelhas e suas crias o trouxe, para apascentar a Jacó, seu povo, e a Israel, sua herança”.
Salmo 78:68-71

Desta maneira, o reino também ficou estabelecido no tempo da lei, em um formato diferente da dupla função de Melquisedeque. A partir dela (a lei), o sacerdócio estava com a tribo de Levi começando por Arão e, na instituição do reino, a tribo de Judá recebeu a incumbência, começando por Davi, por onde se contou a genealogia de Jesus. Por isso, Jesus era chamado de filho de Davi.

Temos um quadro contextualizado do sacerdócio e do reino que deixaram de ser da linhagem de Melquisedeque e passaram a ser regidos pela lei, através das tribos de Israel, principalmente as tribos de Levi (sacerdócio Araônico) e Judá (linhagem real Davidica).

O Dízimo

O dízimo de Abrão foi dos despojos que havia trazido da guerra, entregue à Melquisedeque, o rei e sacerdote, que na simbologia bíblica é uma figura de Cristo. Abraão separou de tudo o que tinha e simplesmente o entregou pelo princípio da gratidão e do reconhecimento. Era uma forma de ser agradecido ao Senhor pelo livramento e pela conquista. Como consequência da atitude de Abraão, Melquisedeque deu a ele a bênção, pão e vinho. Lembre-se de que aqui, o dízimo não era regulamentado, ou seja, não era lei, era um ato de princípio.

No ato de dizimar, Abraão estava reconhecendo o sacerdócio de Melquisedeque e se submetendo ao seu senhorio; reconheceu a sua figura de autoridade. Por isso, Melquisedeque o correspondeu com a bênção. Quando dizimamos, estamos cumprindo com o mesmo princípio de Abraão ao entregar o seu dízimo a Melquisedeque, porque este prefigura a pessoa de Cristo.

Melquisedeque tinha uma dupla função que não foi seguida no período da lei, mas Cristo resgatou essa dupla função em si mesmo, sendo Ele Rei e Sacerdote.

O Dízimo na Epístola aos Hebreus

O Novo Testamento não fala muito sobre o dízimo, mas menciona o suficiente para compreendermos o propósito de Deus para com os cristãos. Veremos que, apesar de estarem incluídos na lei de Moisés, os princípios (não é o formato do tempo da lei) do dízimo vigoram até hoje.

Muitas pessoas confundem a questão da aplicação do dízimo no Novo Testamento, justamente porque não conseguem fazer a separação dos formatos do dízimo em toda a Bíblia. Apesar dos formatos no Antigo Testamento serem diferentes, o princípio do dízimo permaneceu o mesmo. Por isso, quando falamos de dizimar hoje, precisamos estar atentos ao formato que aplicamos, para não cairmos no erro de aplicar somente o que era concernente à lei.

Jesus chegou a mencionar o dízimo quando repreendeu os fariseus:

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas”.
Mateus 23:23

Jesus estava ensinando que o dízimo estava em vigor, mas que não substituía o caráter no que tange ao servir e a espiritualidade genuína. Alguém pode até afirmar que Jesus ainda não havia morrido na cruz e, por isso, a lei do dízimo ainda estava em vigor. Isso é verdade. Por isso, ele tratou do assunto dízimo, mencionando também a lei. O seu foco, neste texto especificamente, era tratar com o caráter de servo dos fariseus, que julgavam cumprir a lei, mas o faziam de forma fria e sem espiritualidade.

Já na segunda vez que o dízimo é mencionado no Novo Testamento, o escritor aos Hebreus não tratou o dízimo no formato da lei, mas no formato em que Abraão havia dado o dízimo a Melquisedeque. Pelo princípio da gratidão e do reconhecimento, entendendo a sua autoridade como rei e sacerdote.

“Porque este Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão quando este regressava da matança dos reis, e o abençoou, a quem também Abraão separou o dízimo de tudo (sendo primeiramente, por interpretação do seu nome, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei de paz)”.
Hebreus 7:1,2

O dízimo de Abraão representava o nosso dízimo a Cristo, pois ele é o único no Novo Testamento que leva sobre si as duas funções: rei e sacerdote. E fica bem claro que isso não vem da linhagem de Levi, mas de Melquisedeque.


“Porque dele assim se testifica: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”.
Hebreus 7:17

No Novo Testamento, não se eliminou o dízimo, só se restaurou o princípio de Abraão ao dizimar a Melquisedeque. Jesus como rei e sacerdote, simplesmente mudou a lei, ou seja, deu um novo formato ao dízimo, não sendo mais no formato da lei mosaica.
           
“Pois, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei”.
Hebreus 7:12

Quando entregamos o dízimo, estamos cumprindo com o princípio de Abraão. Estamos reconhecendo o Senhorio de Jesus como o nosso Rei e nos beneficiando das suas bênçãos como Sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque.

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